ser mulher

domingo, 24 de junho de 2012

O lugar da beleza


Você é bela? A pergunta levanta questões subjetivas, sociais, culturais, psicológicas, e por aí vai. E por que isso importa para as mulheres? Ora, basta realizar uma rápida pesquisa com a palavra “beleza” no buscador Google Imagens, para perceber que pelo menos as 100 primeiras fotos são de rostos e partes do corpo feminino. Isso, no mínimo, indica que a beleza é uma exigência maior para as mulheres.

É fácil apontar o belo. Mas o que é o belo? O artista visual cearense Galber Rocha, graduado em Tecnologia em Artes Plásticas, vivencia essa busca e enxerga o belo de forma poética. “Aprecio pensar o belo, como algo que ocorre em um instante no tempo físico, que me leva a ‘flui’ intensamente naquele momento”.

Tempo e beleza
Do ponto de vista da Estética, disciplina da Filosofia que se preocupa em estudar a beleza, é preciso voltar ao passado. “A gente tem que primeiro refletir como essa ideia de Beleza foi pensada na história do Ocidente. Ela esteve sempre associada a essa herança greco-romana”, pontua o psicólogo e doutor em Filosofia, Paulo Germano Albuquerque.

O padrão de beleza muda através dos séculos

Segundo Paulo Germano, na Grécia Antiga, a beleza não estava associada somente ao físico. O físico “era apenas um índice de uma beleza que, de fato, só pode ser contemplada, no plano espiritual, voltada para a vida contemplativa”. Passam-se os séculos e, com eles, há uma variação desses ideais. “Quando falamos da beleza hoje, século 20, 21, temos que rever que não é essa referência à forma espiritual que conta. Então, é preciso trazer uma outra caracterização para essa nossa sociedade”, define. Ele coloca que desde bem antes, a “apartação entre corpo e alma” já vem permeando a forma de perceber socialmente o que a beleza, e, hoje, o as características físicas para a sociedade ocidental vão ser determinantes para a percepção do belo.

Se antes ser bela estava relacionada a virtudes como bondade e generosidade, os conceitos mudaram. “A beleza feminina não é mais uma conquista de valores éticos e estéticos, a beleza é diretamente comprada em lojas de produtos cosméticos ou clínicas especializadas em intervenções no corpo”, denuncia Galber Rocha.

E os padrões?
Padrões são aquilo que servem de referência. E, pelo visto, cada tempo histórico apresenta seus padrões. Nesse caso, também os estéticos. “A  historia da Arte presente nos livros, sempre é a história da vida da sociedade ocidental, nisso é um fragmento incompleto das transformações da concepção da beleza feminina”, complementa o artista visual Galber Rocha. Ele, que estuda a imagem na arte contemporânea, comenta, por exemplo, que os padrões de beleza válidos para as mulheres africanas do Vale do Omo, na Etiópia, não são válidos para o mundo Ocidental. “A concepção de beleza feminina Ocidental atual é perigosamente manipulada por uma cultura industrializada, que visa ampliar o desejo de consumo de produtos, inserindo definições superficiais da beleza e de feiúra”, opina.

Cínthia Olimpo diz que em tudo
que faz é a única negra

Cíntia Olímpio, 31, estudante de Contabilidade, costuma dizer que tem o próprio estilo e não gosta de seguir moda. Ela acredita que os padrões mexem com a cabeça de algumas mulheres. “O padrão de beleza se refere a mulheres com corpinho e rostinho de Barbie e de preferência loira. Acho que no fundo, a maioria de nós gostaria de ter o corpo perfeito... Sabe a história da "grama do vizinho" ser sempre mais verde?!”, aponta.

“Nós estamos numa sociedade em que o corpo tornou-se primordial”, lembra Paulo Germano, professor da disciplina de Estética e História da Arte. Para ele, “é no corpo mesmo que está se procurando hoje o ideal da beleza, já que, as pessoas são avaliadas pelas suas qualidades físicas”. Paula Ilhéu, nutricionista e esteticista portuguesa, atualmente residente em Fortaleza, acredita que os padrões de beleza ocidentais são preocupantes, pois “criam um estereótipo que não é compatível com o tipo de mulher cearense, por exemplo”, assinala. E o que não faltam são exemplos de mulheres que já sofreram por não se encaixarem nesses padrões.

Opressão
A estudante de Contabilidade Cíntia Olímpio rememora os tempos de infância em que sofreu com o preconceito. “Na 4° série, eu tinha 10 anos, e por ter a boca um pouco grande e os lábios grossos, ganhei um apelido que fazia com que eu ficasse com a boca e os lábios o tempo todo pressionados, para ver se o diminuíam”, recorda. Lembra de outro episódio, bastante doloroso para ela. Aos 12 anos, em uma festa com as amigas, meninos e meninas discutiam sobre dançar. E surgiu a seguinte conversa... ‘Até com a Cintia a gente dança’. http://static.ak.fbcdn.net/images/blank.gif Me senti mal porque, esse ‘até’ soou de uma maneira que, acho que posso dizer, preconceituosa...”, recorda-se. Ela admite que guardou o fato, mas argumenta, “éramos crianças, né?”.

Assim como para Cíntia Olímpio, muitas mulheres sofrem com a falta de respeito a diversidade de belezas evidenciadas no cotidiano. Para Jacqueline Jucá, 50, beleza feminina para é autenticidade. “Ser verdadeira e acima de tudo inteligente, que  é fundamental”, conclui. Jack, como é conhecida na Biblioteca onde trabalha, é bibliotecária e já se sentiu oprimida por sua altura e magreza. Aos 12 anos, na década de 1970, já media 1,61m, sua altura atual. “Daí, me apelidaram de espanador da lua", pontua.  Pesava 43kg, e a chamavam de "esqueletinha" e “perna fina”. “No inicio ficava meio chateada, deslocada. Claro que sim. Mas meus pais sempre me elogiavam e uma tia dizia que eu poderia ser manequim”, discorre.

Jacquelline Jucá acredita que a beleza
está na autenticidade
Determinar que alguém é magro ou gordo, por exemplo, pressupõe um padrão estabelecido. Contudo, a aceitação apenas desse padrão, inferioriza outros biotipos.  Yara da Silva, 16, estudante, também já teve problemas com o julgamento alheio acerca de seu peso. Problemas vistos pelos outros. “Muito chato! As pessoas sempre me chamando de apelidos maldosos. Quando eu era mais nova eu me sentia um lixo! Por todos falarem do meu jeito físico, por ser gordinha”, lembra. Classifica o preconceito como ridículo e diz que gosta de tudo que a faça feliz. “Só prejudica o autoestima quando a pessoa não se aceita. E não é o meu caso. Sou muito feliz do jeito que eu sou!”, alegra-se.

É mais que estampa...
“Minha beleza não é efêmera, como o que eu vejo em bancas por aí...”. A composição da cantorapaulista Céu põe, em verso, a consciência que algumas mulheres têm de serem belas. A menção às bancas aponta outro fator: a influência que algumas revistas têm sobre comportamentos femininos.  “A mulher tem de entender que não é a beleza que deve reger a sua vida e o seu equilíbrio, mas sim o bem-estar que deve reger esses conceitos”, afirma Paula Ilheu, esteticista.

Paula Ilheu, esteticista, crê que a beleza
é também estado de espírito
Ser bela para Lívia Parente, 33, fisioterapeuta e dançarina de flamenco, é ser única em seu universo, cada uma com suas diferenças. “Saber amar e aceitar o seu cabelo, seu corpo, a cor dos olhos, como ele é”, assegura. Na adolescência, a dançarina que mede 1,78m teve problemas com sua altura. “Tenho e tive que ouvir muita gente falar que eu não ia arrumar namorado. Isso me deixava triste porque eu me achava linda alta, e ainda usava salto. Mas a forma com que as pessoas me tratavam acabou gerando uma queda na minha auto-estima”, sublinha. Foi só na fase adulta que Lívia deixou de se abalar emocionalmente com o que as pessoas falavam sobre sua aparência. “Acabei me aceitando, me amando como eu sou. Tenho vontade de dizer aquelas pessoas que nunca tive problemas em arrumar namorado”, rebate.

Maus padrões
Os padrões são castradores, avisa o artista plástico Galber Rocha. “Toda mulher tem o direito de ser única, exclusiva, e linda na sua condição de existir. Esse padrão industrializa a imagem aos moldes do que é comercialmente aceito e, aquelas que não possuem as características estabelecidas no padrão, são marginalizadas, excluídas como se fossem mulheres de segunda classe”, salienta. Ele alerta para a pressão que pode gerar no cotidiano dessas mulheres. 

A maranhense Dalila Pereira, 21, é locutora e produtora de rádio, e teve problemas com a autoimagem na fase da pré-adolescência. “Sempre tem aquela turma do fundão de meninos que gosta de ficar apelidando todo mundo. Eu sempre fui magrela, alta e tenho o nariz grande”, conta. Ela lembra os apelidos tolos que recebia: “bruxa, nariguda, vara-pau, essas coisas...”. Recorda o quão ficava mal e diz que brigava ou fingia que aquilo não incomodava. “Chorava escondida ou nem chorava. Não me submetia”, desabafa.  

Dalila Pereira diz que demorou a se
ver bem no espelho 
Outra Dalila, 22, de sobrenome Lima, gosta de ser chamada de Lylla. É estudante de jornalismo e também já teve conflitos com a aparência. O caso de Lylla é o cabelo. “Quando se é nova, a tendência é tentar ser aceita,  estar nos padrões acima de tudo”, afirma. Ela conta que tinha problema com o cabelo que considerava “juba de leão” e que todas as amigas alisavam os cachos. Já sugeriram a ela que fizesse o mesmo. “Fiz, mas me arrependi depois”, avalia. A estudante reclama que já pediram para ela ir em determinados lugares, com o cabelo liso, “por ser mais social”. “Eu não preciso ser igual a todas pra ser bela”, garante.

Jacqueline Jucá, a bibliotecária, indigna-se quanto a imposições de mudanças no cabelo. “Todo mundo alisa os cabelos, fica uma ‘boiada’, perde a identidade. Acho super bacana uma propaganda que mostra a beleza dos cabelos de todos os tipos”, cita. “Se você passa a levar numa boa, se aceita como é, metade da autoestima volta. Para outra metade voltar, é só se valorizar, dá luz aos seus pontos belos”, considera Lylla hoje, contente. Afirma que ama os próprios cachos, participa de comunidades virtuais, blogs e grupos em redes sociais para meninas que tem esse mesmo gosto.

Diversas, múltiplas, mulheres
A miscigenação brasileira, na visão de Paula Ilheu, representa para o mundo algo exótico, que está associado à sexualidade e à sensualidade, “induzindo as imagens de exploração do conceito da beleza feminina brasileira”. Lylla Lima diz que os padrões atuais de beleza feminina são distorcidos da nossa realidade. “Nos ‘obriga’ a sermos todas iguais e fúteis”, conceitua.

A xará de Lylla, a piauiense Dalila, confessa que demorou certo tempo para superar os conflitos. ”Sempre ficava escutando na mente aquelas palavras feias. Talvez o próprio amadurecimento me fez ver que não tinha sentido”. Hoje, ela está bem com o espelho, se reconhece bela. Mas que reconhece que para as mulheres, esses padrões geram insatisfação. “Estamos sempre insatisfeitas com a aparência por conta da quantidade de coisas a que somos bombardeadas todos os dias pelas, novelas, jornais, revistas, publicidade”, enumera.

Lylla Lima adora seus cachos e se recusa a alisá-los
Com pesar, Cíntia Olímpio, conta que na infância era chamada de “macaca”. O racismo pesava.  “Chegava em casa chorando... Mas, putz, aprendi e entendi que não poderia mudar... Acho também que nunca pensei em mudar, entretanto a questão sempre foi ‘ou eu me aceito, ou eu me aceito’”. Ela conta que na vida inteira, em tudo que fez, era a única pessoa negra. Frisa que hoje entra na faculdade de cabeça erguida. “Faculdade que também não tem muitos negros e negras”. E não permite que a tratem diferente. 

 “A beleza exige outras janelas”, elucida o artista visual Galber Rocha. Outras janelas para vislumbrar a multiplicidade das belezas femininas. Há beleza em todas as mulheres, mas, para enxergá-la, é preciso desfazer as amarras dos padrões estéticos que restringem e não dão espaço para as diferenças. Daí, dizerem que a beleza está nos olhos de quem vê. A mudança e a reflexão também estão. Ao alcance das vistas, em outras janelas.


Onde estão as diferenças?


Elas vão além dos padrões. E afirmam: estão muito em, obrigada! Confira as fotos da fotógrafa piauiense Carlienne Carpaso, que fotografou múltiplas belezas.


Abaixo, galeria de fotos! ^ ^ 


Elas são belas


Famosas que resistem aos padrões de aparência
Para mulheres públicas, o enquadramento nos padrões estéticos é exigência. Mas nem todas se adequam. “Eu amo comida e odeio exercícios. Eu prefiro pesar uma tonelada e fazer um álbum incrível, do que parecer com a Nicole Richie e fazer um álbum de merda”, confessa a cantora Adele. Contudo, depois de receber críticas ao peso, a britânica adotou uma dieta. Intérpretes brasileiras como Tulipa Ruiz, Tati Quebra-barraco, Preta Gil e Alcione também já foram questionadas por seu peso. Fica a questão: se elas são bonitas assim, por que mudar? Tati Quebra-barraco já fez 19 cirurgias plásticas. A funkeira conta que sofre opressão por ser da periferia.  “Sofro preconceito, sim. Mas não tô nem aí”, alega.

Björk Guðmundsdóttir, cantora irlandesa, abusa do exagero em seus looks, embora tenha tornado esse estranhamento vendável. Já Grace Jones, ícone dos anos 80, também já surpreendeu e pautou a discussão sobre o padrões de beleza. Maria Gadu é questionada pelo aspecto andrógino e garante que não precisa se definir entre o masculino e o feminino. Manuel Rodrigues, Wanessa da Mata e Karina Buhr preservam seus cabelos naturais, o que também já levantou algumas declarações na imprensa.

Em entrevista à jornalista Marília Gabriela, Wanessa da Mata revelou que produtores já a orientaram a abandonar os cachos livres e soltos e a usar saias mais curtas. Joelma, da Banda Calypso, que por tempo conservou seu cabelo natural, também rendeu-se aos alisamentos. Rita Ribeiro e Gaby Amarantos, por seus estilos mais extravagantes, são híbridas e representam manifestações culturais específicas. A paraense Gaby Amarantos diz que “ser brega agora é cult”. As cantoras provam, assim, que não é preciso o adequar-se aos padrões estéticos para ser bela.

“A beleza exige outras janelas...”

Graduado em Tecnologia em Artes Plásticas (2010), também é técnico em Design Ambiental: Decoração, Mobiliário e Paisagismo (2000), pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Fundou o Coletivo Ludus. O coletivo é um grupo formado por quatro artistas e pesquisadores da imagem na Arte Contemporânea. Atualmente, é professor de meios técnicos para a Pintura e o Desenho de observação.

Alguns trabalhos:
- Mostra coletiva Entre Mentes (2010), no Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará (MAUC)
- XIV Unifor Plástica (2007)
Confira a produção de Galber em: 
http://galbergalber.blogspot.com.br

Vestida - Esteticamente, como poderíamos definir o belo?
Galber Rocha - A resposta para essa pergunta requer muito cuidado. Os padrões estéticos construídos pela cultura ocidental são amplamente discutidos pela Arte contemporânea, que aborda outros canais para pensar o belo na sociedade, como imagens do grotesco, do corpo mutilado, do lixo, entre outros. Aprecio pensar o belo, como algo que ocorre em um instante no tempo físico, que me leva a “fluir” intensamente naquele momento, através de uma música, de uma imagem, de um livro, de uma performance ou por meio de um beijo afetuosamente fingido. Nisso o belo também pode ser um disfarce para a feiúra.

Vestida - Ao longo da história da arte, os padrões referentes a concepção de beleza feminina foram se remodelando. Como você vê esse processo?
Galber - A  historia da Arte presente nos livros, sempre é a história da vida da sociedade ocidental, nisso é um fragmento incompleto das transformações da concepção da beleza feminina. Por exemplo, o modo de entender os padrões da beleza das mulheres africanas do Vale do Omo (Etiópia), não está presente na discussão ocidental. A concepção de beleza feminina ocidental atual é perigosamente manipulada por uma cultura industrializada, que visa ampliar o desejo de consumo de produtos, inserindo definições superficiais da beleza e de feiúra, nisso a beleza feminina não é mais uma conquista de valores éticos e estéticos, a beleza é diretamente comprada em lojas de produtos cosméticos ou clínicas especializadas em intervenções no copo. A meu ver, a beleza feminina está banalizada, reduzida a um corpo plastificado por botox, silicone e outros produtos artificiais. A Arte contemporânea reage a essa situação, propondo novos olhares, outras janelas para pensar as questões da beleza.

Vestida - A mulher sempre esteve em pinturas e esculturas, como musa ou inspiração, já que os sujeitos da arte eram os homens, na maioria. Como a mulher era/é vista nas artes?
Galber - A partir do fim da segunda guerra mundial, e com a revolução industrial, a mulher ocupa com mais força alguns dos espaços dominados pelo homem, e enfrenta definitivamente as ideologias da cultura machista dominante. Na Arte, a mulher deixa de ser objeto de representação, para tornar-se agente criador de novas formas de representar o mundo.

Vestida - Temos padrões estéticos femininos hegemônicos – loira, cabelo liso, magra, etc – que não respeitam a diversidade/as diferenças de ser mulher. O que você acha desses padrões?
Galber - Os padrões que você cita, são castradores. Toda mulher tem o direito de ser única, exclusiva, e linda na sua condição de existir. Esse padrão industrializa a imagem do que é comercialmente aceito, e aquelas que não possuem as características estabelecidas no padrão, são marginalizadas, excluídas como se fossem mulheres de “segunda classe”. A globalização massifica as ideologias de beleza, constroem um padrão impossível de ser atingido, escolhem algumas mulheres para representar esse padrão estético, e criam uma pressão social intensa para que as demais mulheres,  sigam o modelo das “deusas”. Isso gera uma pressão grotesca no cotidiano das pessoas.

Vestida - “A beleza exige outras janelas”, você diz, e sempre coloca a frase com fotos de mulheres. O que significa?
Galber - “A beleza exige outras janelas”, é um modo de provocar minha curiosidade, de descobrir novas formas de olhar o mundo, por meio de outros olhares, de novas lentes. Nem sempre escolho imagens de mulheres, por vezes mostro imagens de cavernas, furacões, abismos, o fundo do mar, ou então, coisas simples do cotidiano, como uma pessoa no Marrocos sentada na calçada da própria casa destruída por um incêndio. Penso que, é um privilégio estudar a imagem. Geralmente escolho imagens de mulheres negras. Em minha pesquisa me sinto mais atraído por elas, tenho “tesão” pela grande diversidade de possibilidades de ver o mundo, as pessoas e as mulheres negras.

Vestida - O que é beleza feminina para você?
Galber - Minha maneira de ver a beleza da mulher está em sua exclusividade absoluta, quanto mais ela é diferente do padrão, quanto mais está fora do padrão, quanto mais “esquisitinha”  melhor, penso que “a beleza exige outras janelas”.

sábado, 23 de junho de 2012

Beleza é também estado de espírito



Passando uns tempos em Lisboa, a portuguesa Paula Ilheu, que é formada há 25 anos em Nutrição à estética, mora em Fortaleza, Ceará. Aqui no Brasil, é naturologista. No Paraguai, fez doutorado em Naturopatia Cientifica. Além disso, é terapeuta em diversas áreas, como por exemplo, a Geoterapia. Paula Ilheu resolveu combinar suas formações, e, atualmente, trabalha com nutrição natural para gestantes, nas clinicas Mãe do Corpo e Harmoniq.

Vestida – A senhora desenvolve tratamentos estéticos naturais. Quais as principais diferenças e benefícios desses tratamentos para os tratamentos tradicionais?
Paula Ilheu - Os tratamentos naturais são realizados com 14 variedades de argila. São fitoterápicos e trofoterápicos, o que os diferencia é que o que é natural não agride a pele, apenas a restaura e recupera a cutis de forma mais eficiente e rápida. Por exemplo, eu não uso protetor solar nunca e vou a praia na hora que quero. Não tenho manchas. Mas, diariamente, faço argila com uma mistura de frutas (monavie), suco de 19 frutos com colágeno, reverestrol e mel.

Vestida - O custo desses tratamentos é acessível? Variam de quanto a quanto?
Paula - É mais barato que um cosmético, e protege o corpo dos radicais livres. Uma limpeza de pele natural custa cerca de R$65. Uma feita com químicos custa R$85 e a pele fica agredida.

Vestida - A questão da beleza está bem mais relacionada às mulheres do que aos homens, por fatores sociais, culturais e históricos. Na maioria, o público que procura seu trabalho é um público feminino?
Paula - tenho mais mulheres, mas também muitos homens. Os meus amigos todos se cuidam com argila e usam, antes de barbear. Até meu pai já usa, pois facilita a retirada da barba, não deixando a pele agredida. O meu trabalho tem uma mistura muito grande quer de sexos, quer de extratos sociais.

Vestida - Percebe que a auto-estima é um fator significativo para essa busca?
Paula – Muito. E a argila ajuda a encontrar essa auto estima de forma imediata. Ela equilibra a energia do corpo de imediato.

Vestida - Nós temos, hoje em dia, um padrão de beleza. Ao qual, a maior parte das mulheres, obviamente, não se adéqua, já que somos todas diferentes. O que acha desses padrões estéticos?
Paula - Eu acho que a Beleza é algo que deve estar de acordo com a necessidade de cada pessoa, mas, sobretudo, com o fator equilíbrio/saúde. De dentro para fora, e não, o inverso.

Vestida - Os tipos "ideais" - magra, cabelo liso, jovem, etc - são colocados para que a maioria das mulheres os sigam. Acha que esses padrões, muitas vezes disseminados pela mídia como certos, são negativos? Acredita que eles mexem com a auto-estima feminina?
Paula – Com certeza. Eles criam um estereótipo que não é compatível com o tipo de mulher cearense, por exemplo. E isso faz com que seja difícil para a mulher se aceitar como é.

Vestida - O Brasil é um país riquíssimo em diferenças. As mulheres daqui, em sua maioria, são bem diferentes dos padrões globais de beleza. Como podemos valorizar essa diversidade? E mostrar que não existe uma beleza, mas várias belezas...
Paula - A mulher tem de entender que não é a beleza que deve reger a sua vida e o seu equilibrio, mas sim o bem-estar. A miscigenação que o Brasil tem é algo que o mundo observa como “exótico” e está associado à sexualidade e à sensualidade, o que induz à imagens de exploração do conceito da beleza feminina

Vestida - Conversei com algumas mulheres, que já tiveram problemas de aparência, justamente por conta desses padrões. E é interessante, o que a senhora tava dizendo à respeito de entender a beleza como estado de espírito, de se sentir bem. Considera que os tratamentos estéticos devem potencializar o belo que já existe na mulher, e não mudá-la? Por quê?
Paula – Sim. É o lado mais importante. Gerar equilíbrio e não diferença. A mulher deve gostar de si mesma e para si, não para agradar aos outros

Vestida - E para concluir, o que é beleza feminina para a senhora?
Paula - A Beleza é algo que brilha em nós, algo que tem a ver com equilíbrio total, relacionado á nossa forma de viver. A beleza tem a ver com sentimento, não com a imagem. Tem a ver com luz e paz interior. Independente de sexo, beleza não é externo, a imagem é que tem sexo.