Alguns trabalhos:
- Mostra coletiva Entre
Mentes (2010), no Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará (MAUC)
- XIV Unifor Plástica (2007)
Vestida - Esteticamente, como poderíamos definir o belo?
Galber Rocha - A
resposta para essa pergunta requer muito cuidado. Os padrões estéticos
construídos pela cultura ocidental são amplamente discutidos pela Arte
contemporânea, que aborda outros canais para pensar o belo na sociedade, como
imagens do grotesco, do corpo mutilado, do lixo, entre outros. Aprecio pensar o
belo, como algo que ocorre em um instante no tempo físico, que me leva a “fluir”
intensamente naquele
momento, através de uma música, de uma imagem, de um livro, de uma performance ou
por meio de um beijo afetuosamente fingido. Nisso o belo também pode ser um
disfarce para a feiúra.
Vestida - Ao longo da história da arte, os padrões
referentes a concepção de beleza feminina foram se remodelando. Como você vê
esse processo?
Galber - A historia
da Arte presente nos livros, sempre é a história da vida da sociedade
ocidental, nisso é um fragmento incompleto das transformações da concepção da
beleza feminina. Por exemplo, o modo de entender os padrões da beleza das
mulheres africanas do Vale do Omo (Etiópia), não está presente na discussão
ocidental. A concepção de beleza feminina ocidental atual é
perigosamente manipulada por uma cultura industrializada, que visa ampliar
o desejo de consumo de produtos, inserindo definições superficiais da beleza e
de feiúra, nisso a beleza feminina não é mais uma conquista de valores éticos e
estéticos, a beleza é diretamente comprada em lojas de produtos cosméticos ou
clínicas especializadas em intervenções no copo. A meu ver, a beleza feminina
está banalizada, reduzida a um corpo plastificado por botox, silicone e outros
produtos artificiais. A Arte contemporânea reage a essa situação, propondo
novos olhares, outras janelas para pensar as questões da beleza.
Vestida - A mulher sempre esteve em pinturas e
esculturas, como musa ou inspiração, já que os sujeitos da arte eram os homens,
na maioria. Como a mulher era/é vista nas artes?
Galber - A
partir do fim da segunda guerra mundial, e com a revolução industrial, a mulher
ocupa com mais força alguns dos espaços dominados pelo homem, e enfrenta
definitivamente as ideologias da cultura machista dominante. Na Arte, a mulher
deixa de ser objeto de representação, para tornar-se agente criador de novas
formas de representar o mundo.
Vestida - Temos padrões estéticos femininos hegemônicos –
loira, cabelo liso, magra, etc – que não respeitam a diversidade/as diferenças
de ser mulher. O que você acha desses padrões?
Galber - Os
padrões que você cita, são castradores. Toda mulher tem o direito de ser única,
exclusiva, e linda na sua condição de existir. Esse padrão industrializa a
imagem do que é comercialmente aceito, e aquelas que não possuem as
características estabelecidas no padrão, são marginalizadas, excluídas como se
fossem mulheres de “segunda classe”. A globalização massifica as ideologias de
beleza, constroem um padrão impossível de ser atingido, escolhem algumas
mulheres para representar esse padrão estético, e criam uma pressão social
intensa para que as demais mulheres, sigam o modelo das “deusas”.
Isso gera uma pressão grotesca no cotidiano das pessoas.
Vestida - “A beleza exige outras janelas”, você diz, e
sempre coloca a frase com fotos de mulheres. O que significa?
Galber - “A
beleza exige outras janelas”, é um modo de provocar minha curiosidade, de
descobrir novas formas de olhar o mundo, por meio de outros olhares, de novas
lentes. Nem sempre escolho imagens de mulheres, por vezes mostro imagens de
cavernas, furacões, abismos, o fundo do mar, ou então, coisas simples do
cotidiano, como uma pessoa no Marrocos sentada na calçada da própria casa
destruída por um incêndio. Penso que, é um privilégio estudar a imagem.
Geralmente escolho imagens de mulheres negras. Em minha pesquisa me sinto mais
atraído por elas, tenho “tesão” pela grande diversidade de possibilidades de
ver o mundo, as pessoas e as mulheres negras.
Vestida - O que é beleza feminina para você?
Galber - Minha
maneira de ver a beleza da mulher está em sua exclusividade absoluta, quanto
mais ela é diferente do padrão, quanto mais está fora do padrão, quanto mais
“esquisitinha” melhor, penso que “a beleza exige outras janelas”.
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